Uma reportagem publicada pela Coluna do Estadão revelou nesta semana detalhes de um contrato milionário que envolve o governo do Maranhão, o prefeito de Paço do Lumiar e familiares diretos do governador Carlos Brandão (PSB).
De acordo com o Estadão, desde que Brandão assumiu o comando do Estado, em abril de 2022, sua gestão pagou cerca de R$ 909 milhões a uma única empresa de engenharia, a Qualitech. O valor representa 80% de todo o repasse feito pelo governo estadual à empresa na última década.
A Qualitech pertence a Fred Campos, atual prefeito de Paço do Lumiar, e ao pai dele. O detalhe que chama ainda mais atenção é que a vice-prefeita da cidade, Mariana Brandão, é sobrinha do governador.
Segundo o levantamento do Estadão, enquanto Brandão era vice-governador na gestão de Flávio Dino, a empresa recebeu R$ 220 milhões entre 2015 e 2021 — uma média anual de R$ 37 milhões. Já como governador, Brandão fez os repasses saltarem para uma média de R$ 260 milhões por ano.
Outro ponto levantado pela reportagem é que 30 dos 40 contratos celebrados entre a Qualitech e o governo tiveram aditivos na gestão atual, ou seja, foram renovados ou ampliados sem nova licitação. O maior contrato, de R$ 65 milhões, foi assinado em agosto de 2024, durante a campanha eleitoral em que Mariana Brandão era candidata a vice-prefeita na chapa de Fred Campos.
O governo nega irregularidades e afirma que parte do valor corresponde a pagamentos de obras iniciadas ou concluídas em gestões anteriores. No entanto, o Estadão destaca que o Executivo não respondeu por que tantos contratos foram aditivados sem nova concorrência.
A situação se agrava porque Fred Campos tem histórico de problemas com a Justiça: o prefeito chegou a usar tornozeleira eletrônica durante a campanha de 2020 e foi indiciado pela Polícia Federal acusado de participar de um esquema para desviar recursos do Banco do Nordeste por meio de decisões judiciais manipuladas.
Outro detalhe citado pelo jornal é que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou o afastamento de parentes do governador de cargos públicos, citando nepotismo na gestão estadual. Entre os afastados estão Marcus Brandão, irmão de Carlos Brandão e pai de Mariana Brandão, e o marido de Mariana, que ocupava cargo na Secretaria de Infraestrutura.
Para completar, o Estadão ainda informou que o governador e seu irmão deram aval a um empréstimo de R$ 17,7 milhões a um sobrinho durante as eleições de 2022 — ano em que Brandão declarou ter apenas R$ 479 mil em bens à Justiça Eleitoral.
Em nota enviada à coluna, o governo diz que mais de 50% dos R$ 909 milhões referem-se a obras iniciadas ou concluídas na gestão anterior, mas que ainda não tinham sido pagas. No entanto, o Portal de Transparência mostra que a maioria dos contratos foi prorrogada ou aditivada na atual gestão.
O caso expõe uma rede de relações familiares, políticas e empresariais que envolve grandes valores do orçamento público e reforça denúncias de favorecimento e uso da máquina para manter alianças locais.
O governo também reconheceu que a Qualitech, ao lado da Gomes Sodré, é hoje uma das empreiteiras mais acionadas pelo estado. Segundo os dados oficiais, o capital social da empresa cresceu de R$ 410 mil, em 2017, para R$ 3,2 milhões em 2021 um aumento de 691% em apenas quatro anos, impulsionado pela sucessão de contratos com o poder público.
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